Exposição ComCiência – hiper-realismo para criança
por Miriam Barreto, mãe de dois e idealizadora do Na pracinha
Outro dia, uma mãe veio perguntar se eu achava que ela deveria ou não levar sua filha na exposição ComCiência, que está no CCBB até 09/01/17. Eu ainda não havia visitado a mostra, mas a princípio, não imaginei que fizesse sentido algum aquela pergunta. É uma exposição de livre acesso, da artista e escultora australiana Patrícia Piccinini. São 35 esculturas criadas a partir de pesquisas na ciência genética e na análise do comportamento humano – por que não levar a criança?
Visitamos o espaço na semana passada e agora já consigo entender, de certa forma, as dúvidas daquela mãe. Chegamos no CCBB pelo pátio. Imediatamente, avistamos uma “menina” ajoelhada no chão, olhando para o alto, sob um grande balão em forma de caju. Andamos em direção a ela. “Mãe, o que essa menina está fazendo ali?” “Não sei, Sara, vamos lá perguntar a ela?” Chegamos mais perto e a pequena percebeu do que se tratava, mas entrou na brincadeira: “Ei, menina, o que você está fazendo aí?”
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Mãe, o que aquela menina está fazendo parada ali? {BreathFruit} |
Expliquei que era uma escultura, não era de verdade, mas que também achava incrível perceber como uma artista conseguira fazer algo tão semelhante ao ser humano. “Filha, veja, isso é hiper-realismo.” E aquela feição que a gente conhece de “uau, como assim?” transpareceu os pensamentos da pequena.
O “caju” sobre a menina se infla e esvazia a cada 20 minutos. Ao encher, o balão revela a escultura da garotinha ajoelhada no chão. É como uma grande respiração.
Há mais uma obra no andar da recepção do CCBB, a chamada “O Observador”. Parece que vai cair, mas não cai. Parece que vai se mexer, mas não mexe. Dá vontade de tocar, mas não pode… é uma exposição e tem suas regras, vale lembrar disso 😉
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O que você está olhando, garotinho? {O Observador} |
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Cuidado, menino, desce daí! {O Observador} |
A artista usa técnicas do cinema, da escultura e da animação e provoca questionamentos a partir de imagens tridimensionais que sugerem também criaturas “estranhas” num primeiro momento, mas com as quais talvez possamos nos acostumar, como realmente acontece quando somos apresentados a algo novo, diferente.
Esses seres que fogem da realidade e se misturam ao fantástico e imaginário, estão expostos no terceiro andar do CCBB. São esculturas como a “Grande Mãe”, “Indiviso”, “O Visitante Bem-vindo”, “Flor Bota”, entre outras. Como explicar? Só visitando mesmo para entender e perceber as sensações que eles podem despertar em cada um: vai desde o encantamento e ternura, passando pela curiosidade e alcançando o estranhamento e a aflição.
Entre as variadas reflexões levantadas pela artista por meio das esculturas, há questionamentos como “o que aconteceria se fôssemos capazes de criar máquinas com genes? A fascinação dos seres humanos por suas máquinas pode fazer com que um dia eles desejem transformá-las em seres vivos. E se pudéssemos criar seres para nos substituir em tarefas como amamentar nossos filhos, colocá-los para dormir, dar-lhes carinho, enquanto nos ocupamos com tantas outras coisas da vida moderna?”.
Portanto, para aquelas crianças mais sensíveis, sugiro levar para visitar as esculturas do pátio e da recepção, que são tão encantadoras {Breathfruit e O Observador}. No andar da recepção encontra-se também a instalação O Desmedido Humano – uma sala com projeção de 7 minutos que permite uma experiência sensorial, simulando uma viagem por dentro do corpo humano. São lindas imagens que encantam adultos e crianças.
Vale reiterar que levar as crianças ao Museu será sempre um ótimo passeio {a gente já falou sobre isto, leia aqui}. Mas, assim como o acesso ao cinema e aos próprios livros, deve ser monitorado e, se possível, avaliado previamente pelos pais. Aquela mãe estava certa. Vale cuidar do conteúdo que o seu filho terá acesso sempre 🙂
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Há esculturas no pátio, na recepção e no 3º andar do CCBB |
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Em muitas obras, foi pura diversão e encantamento – vamos equilibrar 🙂 |
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Será que ele vai sair voando? |
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A mostra também conta com quadros hiper-realistas |
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Ela parece de verdade! {A Confortadora} |
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A mostra também conta com vídeos |
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{Boot Flower} |
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Que aflição…! |
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O que aconteceria se eles substituíssem os pais para dar carinho às crianças? {Indiviso} |
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Um olhar de ternura tão real e ao mesmo tempo tão desconcertante…! {O Visitante Bem-Vindo} |
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O Desmedido Humano – uma viagem por dentro do corpo humano por meio de uma experiência sensorial |